A Bender Inovações Tecnológicas (Beintec), empresa que usará tecnologia brasileira para transformar resíduos hospitalares em biocombustível, recebeu Licença Prévia e de Instalação (LPI) emitida pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Localizado no município de Taquari, o empreendimento processará diariamente até cinco toneladas de lixo por pirólise (decomposição térmica).
A licença foi emitida no dia 9 de abril. Para a presidente da Fepam, Marjorie Kauffmann, trata-se de mais um passo na busca pelo desenvolvimento sustentável do Rio Grande do Sul. “A Política Nacional de Resíduos Sólidos orienta a busca por novas tecnologias para a otimização dos recursos naturais utilizando a matéria-prima extraída, o máximo de vezes possível, entendendo isso como sustentabilidade. A nossa gestão não só corrobora, como busca validar tecnologias alinhadas a este propósito”, afirma.
A tecnologia da pirólise, ao contrário de outras formas de tratamento de resíduos, não libera na atmosfera substâncias nocivas ao ambiente porque é um processo fechado. O seu uso contribui para a redução de geração de gases poluentes, como o metano e o gás carbônico – principais agentes do efeito estufa –, pois evita que os resíduos acabem em aterros sanitários, por exemplo.
Pirólise é uma reação de decomposição térmica, ou seja, que ocorre por meio da exposição a altas temperaturas. É caracterizada como a ruptura da estrutura molecular original, a decomposição ou a alteração de um composto pela ação do calor em um ambiente com pouco ou nenhum oxigênio.
Segundo Felipe Bender, proprietário da Beintec, desde 2007 a empresa realiza estudos e testes nessa área. Observando o volume crescente de resíduos hospitalares e industriais, Bender percebeu o que já era de conhecimento dos especialistas: os aterros sanitários são a forma mais precária de tratar o lixo, pois acabam por afetar grandes áreas territoriais e nem sempre há controles efetivos de poluição do solo e do ar. Pensando nisso, desenvolveu um equipamento que converte o rejeito em combustíveis alternativos com valor comercial agregado, como diesel, gasolina e gás natural, eliminando o descarte de outros resíduos no pós-processo.
A eficiência energética é o principal diferencial da tecnologia desenvolvida. Com o auxílio de catalisadores, é possível obter um processo completo em temperatura mais baixa do que a de outras técnicas utilizadas, sendo mais eficiente do que tecnologias já existentes.
Com a licença em mãos, o sistema deve entrar em operação em até três meses. Agora, a empresa analisará os protocolos de intenção de destinação dos hospitais para recebimento dos materiais.
Como funciona
Os resíduos são inseridos em uma máquina de conversão energética, construída pela própria Beintec, ativada a partir de catalisadores. Os materiais são tratados conforme suas classificações, passando por um processo de moagem, para aumentar a densidade. Após, são encaminhados ao reator termoquímico, onde ocorrem as reações de volatilização – estado líquido para gasoso – e de fusão.
O resíduo inserido, somado ao catalisador, age no reator termoquímico em temperatura entre 200 °C a 350 °C. Neste momento, ocorre uma série de reações que produzem gases que, condensados e separados, viram produtos petroquímicos como gasolina, nafta, querosene de aviação e diesel. Os produtos podem ser utilizados como combustíveis alternativos em veículos e na geração de eletricidade.
Os gases não condensáveis são utilizados, em parte, no próprio reator termoquímico. As sobras viram combustíveis que podem ser utilizados para geração de energia elétrica no acionamento da máquina ou vendidos para empresas e fornecedores.
A Fepam vem acompanhando o desenvolvimento e a instalação do sistema. “A atuação dos técnicos da fundação é primordial. Juntos, estamos verificando se o trabalho está adequado com todas as normas vigentes para que, no futuro, possamos atender não só demandas do Estado, mas também do Brasil. Como se trata de um processo não poluente comparado àqueles utilizados atualmente, desperta grande atenção do ponto de vista científico. Saliento que nosso balanço energético é positivo, produz mais energia do que consome”, ressalta Bender.
Bárbara Corrêa