Condições do El Niño devem permanecer no próximo trimestre e demandam cuidados dos produtores

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Há uma probabilidade de 90% ou mais de que as condições do El Niño permaneçam atuantes durante os meses de primavera e início do verão 2023/2024, com possibilidade de chegar à categoria de muito forte entre o fim de novembro e o decorrer de dezembro. É o que alerta o Boletim trimestral do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs), coordenado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).

As previsões apresentadas são baseadas nos modelos ENOS do APEC Climate Center (APCC) – centro de pesquisa sediado na Coreia do Sul – e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

O prognóstico indica chuvas mais frequentes e persistentes no trimestre, com maior probabilidade especialmente entre outubro e novembro. No mês de dezembro, elas ainda devem ficar acima da média na maior parte do estado, porém de maneira mais irregular, com maiores anomalias positivas na metade oeste do Rio Grande do Sul. Os acumulados de chuva no trimestre devem superar a média em todas as regiões, com anomalias médias acima dos 200 mm em todas as áreas do Estado, superando os 300 mm na metade oeste e no noroeste.

Eventos com tempestades, rajadas de vento forte e queda de granizo também serão mais frequentes nesta primavera, sob influência do El Niño.

O excesso de chuva nos próximos meses pode intensificar o excedente hídrico, causando o encharcamento do solo. Isso deve prejudicar a colheita da safra de inverno e o início do plantio das culturas de grãos.

As temperaturas do ar devem ficar acima da média, na metade norte do RS. Já na metade sul, as temperaturas ficam próximas da média climatológica, mas com alta variabilidade. Isso significa que haverá forte contraste térmico em virtude da aproximação de frentes frias que encontram o ar mais quente no norte do Estado, resultando em grande variabilidade nas temperaturas, especialmente no sul.

O boletim do Copaaergs é elaborado a cada três meses por especialistas em Agrometeorologia de 16 entidades públicas estaduais e federais ligadas à agricultura ou ao clima.

O documento também lista uma série de orientações técnicas para as culturas do período.

Orientações

Culturas de inverno

  • Monitorar a ocorrência de doenças e pragas e observar se há necessidade de aplicações de defensivos agrícolas. Não descuidar do momento da colheita, colhendo tão logo seja possível;
  • produtores devem providenciar a revisão das colhedoras e acompanhar a previsão do tempo para colheita a fim de efetivá-la assim que possível.

Arroz

  • Intensificar o sistema de drenagem das áreas de lavoura, desobstruindo drenos, bueiros e vertedouros de barragens;
  • dentro do possível, dar continuidade à adequação das áreas destinadas à lavoura para a próxima safra (principalmente às atividades de preparo e sistematização do solo e drenagem) a fim de possibilitar a semeadura na época recomendada pelo zoneamento agrícola, de forma a aproveitar melhor a radiação solar e evitar as temperaturas baixas no período reprodutivo da cultura;
  • evitar semeaduras em áreas sujeitas à inundação persistente;
  • efetuar a semeadura dentro do período recomendado pelo Zoneamento Agroclimático, semeando primeiro as cultivares de ciclo médio seguido das de ciclo precoce; nas semeaduras após meados de novembro, dar preferência para cultivares de ciclo precoce;
  • atentar para a drenagem após o estabelecimento da lavoura a fim de evitar prejuízos no estabelecimento inicial;
  • iniciar a irrigação definitiva quando as plantas estiverem no estádio de três a quatro folhas, fazendo a aplicação da adubação nitrogenada em cobertura, preferencialmente em solo seco, antes da entrada de água;
  • atentar para a possível ocorrência de baixa luminosidade, que reduz a resposta da cultura à adubação nitrogenada;
  • ter cuidados especiais com o possível aumento na incidência de doenças, devido às prováveis condições meteorológicas favoráveis à sua ocorrência.

Culturas de primavera-verão

  • Na medida do possível, agilizar o preparo e a implantação das culturas para aproveitar as janelas de possibilidades de semeadura e aplicação de produtos fitossanitários;
  • escalonar a época de semeadura e utilizar genótipos de diferentes ciclos ou diferentes grupos de maturação sempre respeitando o zoneamento agrícola e calendário de semeadura;
  • para cultura de milho e feijão iniciar a semeadura quando a temperatura do solo, a 5 cm de profundidade, estiver acima de 16°C e com umidade adequada do solo;
  • tratando-se de plantio direto, fazer o manejo de culturas de inverno voltadas para a proteção do solo e manutenção da umidade no solo;
  • monitorar a lavoura quanto à ocorrência de doenças, em função do prognóstico de chuvas acima da média;
  • atentar para o controle de pragas no milho, especialmente a cigarrinha;
  • para semeaduras em áreas de terras baixas utilizar cultivares precoces, com cuidados especiais em relação a drenagem, considerando a possibilidade de ocorrência de chuvas acima da normal.

Hortaliças

  • Cuidado com excesso de umidade do solo;
  • quando necessário irrigar, proceder pela manhã, e dar preferência à irrigação por gotejamento;
  • para cultivos em ambiente protegido (túneis e estufas), realizar o fechamento ao final do dia e proceder à abertura pela manhã, evitando aumento excessivo da umidade relativa e da temperatura do ar no ambiente interno dos abrigos;
  • dar ênfase ao monitoramento de doenças, principalmente daquelas favorecidas pelo molhamento da parte aérea ou pelo excesso de umidade no ar ou no solo;
  • atentar para a possibilidade de baixa disponibilidade de radiação, especialmente em ambientes protegidos.

Fruticultura

  • Muita atenção ao manejo fitossanitário, com o monitoramento de doenças, principalmente daquelas favorecidas pelo molhamento da parte aérea ou excesso de umidade no ar ou no solo;
  • preservar a cobertura verde nos pomares, seja por meio de espécies cultivadas ou espontâneas, especialmente para proteção do solo, evitando a erosão e perdas de solo e nutrientes;
  • se possível, investir em sistemas de proteção antigranizo e seguro agrícola; em caso de ocorrência de danos por granizo recomenda-se procurar a assistência técnica para análise e ajuste adequado de manejo;
  • em pomares nos quais houver eventual perda de estruturas de frutificação e frutos em função da ocorrência de granizo, adotar o manejo usual do dossel vegetativo em relação a podas e aplicações de defensivos químicos a fim de assegurar a produção da safra seguinte;
  • recomenda-se a prática do raleio para ajuste da carga de frutos quando necessário, conforme as orientações técnicas de cada região/cultivar, para garantir o desenvolvimento e a maturação adequados dos frutos.

Pastagens

  • No manejo de plantas forrageiras, promover a manutenção da cobertura de solo e de boa disponibilidade de forragem por meio de cargas animais adequadas;
  • Escalonar os períodos de plantio/semeadura das forragens cultivadas para o período de primavera/verão utilizando mudas/sementes de alto vigor a fim de reduzir as perdas ou atrasados de implantação que podem ocorrer devido à umidade elevada no início da primavera;
  • reduzir a carga animal na pastagem após a ocorrência de grande volume de chuva, de forma a evitar danos à pastagem pelo excesso de pisoteio;
  • fazer silagem/feno de cultivos e pastagens de inverno/primavera, visando garantir maior disponibilidade de alimento no verão para as categorias de rebanhos mais exigentes;
  • atentar para as instalações e o entorno para evitar formação de muito barro, que pode ocasionar problemas de casco, especialmente em vacas de leite;
  • atentar para possível estresse térmico aos animais, principalmente para vacas de alta produção de leite.

Texto: Ascom Seapi
Edição: Felipe Borges/Secom

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