Em plena era digital, a Rádio Guaíba revela que a bancada gaúcha na Câmara Federal já gastou mais de R$ 1 milhão em serviços postais na atual legislatura. O valor leva em conta o período entre janeiro de 2015 e maio de 2018.
Mensalmente, cada parlamentar gaúcho dispõe de uma cota de RS 40.875,90 para quitar despesas como passagens aéreas, telefonia, serviços postais e manutenção de escritórios, por exemplo. A cota é cumulativa, ou seja, se o deputado não atinge limite de gastos, o saldo restante é acrescido para o mês seguinte, encerrando sempre em dezembro.
De janeiro de 2015 a maio de 2018, 38 deputados ocuparam as 31 cadeiras do Rio Grande do Sul. O período de atuação na Casa varia, uma vez que alguns parlamentares deixaram o cargo para cumprir mandatos no Executivo em âmbitos municipal, estadual ou federal.
Segundo dados do Portal Transparência, o líder da bancada gaúcha na Câmara, deputado federal Giovani Cherini (PR), é responsável pelo maior gasto com os Correios: R$ 185.278,20. Questionado sobre os valores, Cherini atribuiu que passou a usar mais os Correios em função do trabalho realizado.
“Eu sou um deputado que trabalha muito, mesmo. Tenho atividades plurais e sou coordenador da bancada gaúcha há cinco anos. Todo meu gabinete é utilizado para as coisas da bancada porque a bancada não tem recursos. Então, hoje, meu gabinete é múltiplo. Em função disso, quem trabalha gasta, quem não trabalha, não gasta. Você devia fazer uma entrevista para saber por que os deputados não gastam, e não com aqueles que mais gastam. Essa é a realidade”, pondera.
O segundo maior volume de gastos é registrado no gabinete de Heitor Schuch (PSB), com uso de R$ 118.340,62 em serviços postais, seguido de Henrique Fontana (PT), com 99.154,70. Pela cota de gabinete, é possível remeter cartas simples, registradas, Sedex e telegrama.
Dentre os gaúchos que não se ausentaram do Legislativo no período analisado, o mais econômico é Elvino Bohn Gass (PT), com gasto postal de R$ 1.050,84. Conforme Bohn Gass, e economia se deve à intensificação dos trabalhos em plataformas digitais, sem o uso de papel. “Mais do que economia, nós temos de usar mecanismos mais ágeis de comunicação. Hoje, na internet e nas redes sociais, instantaneamente eu posso me comunicar com muito mais agilidade com as pessoas. É o que eu quero fazer e faço sempre. Muito trabalho e muita comunicação com a base”, justifica.
Se considerados os deputados que voltaram ao Parlamento para tentarem a reeleição, o titular Giovani Feltes (MDB) gastou apenas R$ 173,68. Feltes ocupou a pasta da Fazenda, no Rio Grande do Sul, desde janeiro de 2015. Ele voltou ao Parlamento em 6 de abril. No período anterior, o ex-prefeito de Porto Alegre José Fogaça (MDB) integrou a bancada gaúcha. Fogaça utilizou R$ 9.125,76, de 2015 a maio de 2018.
Para o professor e cientista político Paulo Moura, a transformação digital dividiu em dois extremos a classe política: uma parte vem adotando o uso das novas ferramentas, inclusive, prestando contas, e outra ainda utiliza recursos antigos, como o envio postal.
“Existe uma parcela da população brasileira que ainda não é muito conectada, então talvez se justifique algum gasto dos deputados para se comunicar e prestar conta aos seus eleitores por meio de material impresso. Mas, certamente o eleitorado urbano, onde está concentrada a maior parte da população brasileira, é conectado e pode acessar ferramentas digitais, o que permite, com certeza, uma bela economia de dinheiro público. Alguns, inclusive, já fazem questão de mostrar que essas despesas de gabinete, em geral, são ínfimas, comparadas com a de outros”, considera.
Os serviços postais utilizados pelos deputados nas agências dos Correios ocorre por meio de Requisição de Serviço Postal (RSP) e não são objeto de reembolso. A Câmara detêm contrato com a empresa e quando o parlamentar quer utilizar os serviços, emite uma RSP. Depois, a Câmara debita o valor do serviço solicitado na Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar do respectivo deputado; finalmente, os Correios remetem uma fatura global, no fim do mês, para a Câmara.
Confira abaixo os gastos da bancada gaúcha com os Correios de janeiro de 2015 a maio de 2018:
Afonso Hamm (PP) – R$ 33.568,44
Afonso Motta (PDT) – R$ 31.245,10
Alceu Moreira (MDB) – R$ 74.835,65
(*) Assis Melo (PCdoB) – R$ 3.416,78
Bohn Gass (PT) – R$ 1.050,84
Carlos Gomes (PRB) – R$ 67.829,59
(*) Cajar Nardes (Pode) – R$ 8.074,56
Covatti Filho (PP) – R$ 9.371,29
Danrlei (PSD) – R$ 4.152,65
Darcísio Peroni (MDB) – R$ 22.130,21
(*) Fernando Marroni (PT) – R$ 758,79
Giovani Cherini (PR) – R$ 185.278,20
Giovani Feltes (MDB) – R$ 173,68
Heitor Schuch (PSB) – R$ 118.340,62
Henrique Fontana (PT) – R$ 99.154,70
Jerônimo Goergen (PP) – R$ 29.275,38
(*) Jones Martins (MDB) – R$ 11.464,33
José Stédile (PSB) – R$ 6.652,91
(*) José Fogaça (MDB) – R$ 9.125,76
José Otávio Germano (PP) – R$ 9.913,54
João Derly (Rede) – R$ 32.705,68
Luis Carlos Heinze (PP) – R$ 76.816,57
Luiz Carlos Busato (PTB) – R$ 2.932,61
Marco Maia (PT) – R$ 6.940,98
Marcon (PT) – R$ 3.948,08
Maria do Rosário (PT) – R$ 23.349,58
Mauro Pereira (MDB) – R$ 10.334,70
Márcio Biolchi (MDB) – R$ 629,49
Nelson Marchezan Junior (PSDB) – R$ 12.356,08
Onyx Lorenzoni (DEM) – R$ 10.263,57
Osmar Terra (MDB) – R$ 7.459,83
Paulo Pimenta (PT) – R$ 7.034,94
Pepe Vargas (PT) – R$ 8.097,48
Pompeo de Mattos (PDT) – R$ 44.534,49
Renato Molling (PP) – R$ 14.068,35
Ronaldo Nogueira (PTB) – R$ 1.279,82
Sérgio Moraes (PTB) – R$ 29.284,03
* Yeda Crusius (PSDB) – R$ 8.306,24
TOTAL – R$ 1.026.155,54
(*) suplentes