UFRGS e UFCSPA produzem álcool gel a partir de bebidas apreendidas

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Uma parceria entre o Instituto de Química da UFRGS (IQ) e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) possibilita a transformação de bebidas alcoólicas, apreendidas pela Receita Federal, em álcool gel 70%. O trabalho iniciou na última semana de abril, com o recebimento de 1000 litros de misturas de bebidas no Centro de Gestão e Tratamento de Resíduos Químicos (CGTRQ) do Instituto.

O processo inicia com a análise das bebidas recebidas, que possuem diferentes teores alcoólicos e graus de pureza. A partir dessas informações, a equipe do CGTRQ destila as substâncias e obtém soluções aquosas de etanol, que também passam por análise. O etanol é, então, repassado para a equipe da UFCSPA, que faz a transformação para álcool gel 70% e doa o produto a instituições de saúde do Estado.

O coordenador substituto do CGTRQ, Eduardo Rolim de Oliveira, explica que nem todas as bebidas alcoólicas podem ser usadas nesse processo: “Cerveja, que possui cerca de 4% de álcool, ou vinhos e espumantes, com aproximadamente 12% de teor alcoólico, não são adequados. O melhor são os destilados, como uísque, tequila e afins, que contêm cerca de 40% de etanol”. O teor alcoólico também influencia no rendimento: quando se trabalha a partir de uma mistura de bebidas, como é o caso das que foram repassadas pela Receita Federal, a quantidade que se obtém ao final é variada. “O que estamos observando nos primeiros resultados é que, se partimos de uma mistura com cerca de 32% de etanol, conseguimos obter um produto com cerca de 70% de etanol, que é o desejado, após uma única destilação. Assim, numa condição ideal, se os 1000L contiverem 320L de etanol, poderemos chegar a uns 400L de etanol 70% para a produção do álcool gel”, esclarece.

A capacidade atual do CGTRQ é de destilação de aproximadamente 10 litros por dia, com o uso de um destilador semiautomatizado, chamado de spinning band. “Estamos trabalhando na montagem de outros equipamentos convencionais para tentar aumentar essa produção, mas nosso limite são os recursos para aquisição de equipamentos”, conta o coordenador substituto. O Laboratório de Purificação de Solventes foi montado em 2014, com a reforma das instalações e um investimento de cerca de R$ 200 mil em equipamentos.

Equipamento mais sofisticado do laboratório, o “spinning band” separa compostos com pontos de ebulição mais próximos entre si, o que permite destilar com maior pureza em um menor número de processos – Foto: Divulgação

O trabalho está sendo feito, atualmente, pelos técnicos-administrativos Greice Oliveira, Alexandre Bazzo, Eduardo Rickrott e Larissa Rosa. Além de Eduardo, coordenam o processo o diretor do Centro, Sílvio Dias, e o professor do departamento de Química Orgânica Paulo Schneider. “Em função das restrições de aglomerações e para trabalhar com a máxima segurança, por enquanto, não estamos convocando os estudantes que são bolsistas no Centro, mas isso poderá ocorrer se for necessário”, explica Eduardo.

A ideia da parceria é aproximar as duas instituições e aproveitar a expertise de cada uma. “O Centro é referência nacional na gestão e tratamento de resíduos químicos, trabalhando na recuperação e descarte adequado desses resíduos desde 2001, e a UFCSPA tem muita experiência na produção de álcool gel e na preparação de insumos para a área da saúde”, aponta. O GGTRQ opera o Laboratório de Purificação de Solventes há mais de 5 anos, montado com apoio da Pró-Reitoria de Planejamento. Nesse período, a equipe purificou e disponibilizou para uso dos laboratórios da UFRGS mais de 1000 litros de solventes variados, a partir de resíduos químicos que antes eram descartados e incinerados.

A equipe também está em tratativas com a Receita Federal para que o órgão disponibilize mais bebidas para destilação e transformação em álcool gel. “Vamos trabalhar com a maior eficiência que pudermos e pelo tempo que for necessário. É de nosso interesse que tal parceria se estabeleça de forma permanente, pois é boa para a UFRGS, para a UFCSPA e para a sociedade como um todo”, complementa Eduardo.

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