Em agosto do ano passado, a Defensoria Pública do Rio Grande do Sul (DPE/RS) passou a oferecer o serviço de constelação familiar aos participantes das Oficinas das Famílias, graças a convênio firmado com instituições e profissionais voluntários. No entanto, com a pandemia de covid-19, a atividade passou a ser oferecida gradualmente, de maneira online. Esse formato iniciou em junho deste ano, quando foram realizadas quatro sessões. Em agosto, já melhor estabelecido, o serviço beneficiou 18 famílias. A ideia da constelação familiar é expandir a consciência dos envolvidos sobre o conflito, a partir da identificação de padrões de comportamento familiares que podem estar se repetindo.
Conforme a coordenadora da Câmara de Mediação Familiar da DPE/RS, defensora pública Patricia Pithan Pagnussatt Fan, ela é quem avalia quais participantes da Oficina das Famílias ou da mediação necessitam da constelação familiar. O objetivo é potencializar as sessões de mediação que acontecem na sequência. “A constelação familiar é uma abordagem terapêutica. Não é terapia, mas apresenta efeito terapêutico. Esta técnica foi desenvolvida e aplicada por Bert Hellinger e, no Brasil, tem sido amplamente divulgada e utilizada no Direito por diversas instituições e profissionais habilitados. Esta abordagem é utilizada na resolução de conflitos judiciais ou extrajudiciais em diversos países. Na prática, os assistidos que passam por este trabalho realmente conseguem potencializar a resolução das suas questões, contribuindo para a pacificação do ambiente familiar, facilitando o diálogo e promovendo a mudança de cultura. Os participantes finalizam o encontro com uma consciência mais ampliada, o que facilita o processo de mediação posterior”, explica.
Ainda segundo Patricia, o relato dos assistidos que passaram por este atendimento é muito significativo, na medida em que passam a olhar o conflito por outro ângulo. Suas percepções sobre o fato, sua responsabilidade e diretrizes a serem tomadas se tornam evidentes, de acordo com a defensora. “Além disso, há um acolhimento, porque passam a se sentir pertencentes ao seu núcleo familiar, que não raras vezes promoveu exclusão. É muito comum o relato de troca de papéis, ou seja, filhos no lugar de pai ou mãe, famílias desfuncionais, ausência de vínculos saudáveis para o equilíbrio das trocas nas relações familiares, entre outros”.
Luciane Schaun Castro é uma das consteladoras voluntárias e, desde junho, está realizando as constelações online. Segundo ela, a ideia era iniciar em março, mas a pandemia acabou modificando os planos. Nada que a impedisse que seguir seu ideal. “Desde que fiz minha formação, tinha como propósito levar este método ao maior número de famílias possível, especialmente às pessoas em situação de vulnerabilidade social. Foi assim que cheguei à Defensoria. Sou consteladora familiar e sistêmica e minha formação já estava voltada para o trabalho no Judiciário. Acompanhei algumas Oficinas das Famílias e senti que ali queria ficar e auxiliar as famílias a encontrarem harmonia e um bom convívio”, disse.
A voluntária já estava realizando seu trabalho online há algum tempo e, quando foi chamada para essa nova modalidade na Defensoria, já estava pronta para começar. “Os atendimentos acontecem por videochamada e cada sessão tem mais ou menos duas horas de duração. Logo que a constelação começa, já é possível ver onde está o emaranhado, o nó a ser desatado. Os participantes compreendem onde estão as desordens que causam os conflitos e sentem a leveza para seguir por uma nova perspectiva. Nos relatos, eles descrevem a satisfação de poderem compreender o que estava por trás das dificuldades, as dores do passado presentes nos relacionamentos e nas dinâmicas familiares. Sempre assumem a responsabilidade de fazer algo com as informações adquiridas e sabem que a constelação é um caminho, mas quem pode trilhar são eles”, conta.
Danubia da Silva Ribeiro foi uma das assistidas que aprovou o formato de constelações online e acha que esse modelo deve seguir no pós-pandemia. “Mesmo quando acabar a pandemia, as audiências poderiam ser virtuais. É mais confortável, menos tenso e sem nenhum custo de locomoção”, disse.