Nesses dias, ou melhor, nessa semana, as coisas andam meio misturadas. O carnaval com suas fantasias e folias a todo vapor pelas ruas e praças das cidades e em todos os meios sociais, exaltando a carne e as carnes. A quarta-feira de cinzas parece chegar com sua ascese chamando para a sobriedade e a conversão própria da quaresma, falando em jejum, abstinência e esmola.
Nada contra quem aproveitou estes últimos dias quentes para relaxar um pouco antes da retomada das atividades corriqueiras de 2020 que avança a passos largos. Em alternativa ao carnaval do trio elétrico para quem desejasse tinham propostas alternativas como carnaval com Jesus, retiros, a Romaria da Terra, que este ano acontece em Mormaço, diocese de Cruz Alta, com o tema: “O bem viver no campo e na cidade” e o lema: “Dá-me de beber” (Jo 4,7).
Mesmo que tenha perdido um pouco de força nos últimos anos, permanece como uma ação das pastorais sociais da Igreja do Rio Grande do Sul, juntamente com algumas entidades de classe sensíveis às lutas das minorias comprometidas com a justiça social e em especial a questão da terra como lugar para se viver e conviver. É bonito esse jeito de falar. É até bonito de se ouvir: “O bem viver, no campo e na cidade”. É mais que “o viver bem” que já é bom e saudável.
Dom Adelar Baruffi na apresentação esclarece que, ‘o bem viver’ é uma atitude conscientemente pensada, de cuidado com o ambiente e o ser humano, sobretudo os empobrecidos. Portanto, uma opção de vida, algo assumido conscientemente. Vai na linha da “Ecologia Integral” proposta pelo sínodo da Amazônia. Conceito que surge nos povos indígenas da América do Sul. Para eles ‘bem viver’ é ser parte da natureza e respeitar a Terra como mãe
que dá a seus filhos o que eles precisam para viver. Se assim é, ela não deve ser explorada e maltratada, mas amada e cuidada.
Depois Dom Adelar continua dizendo: “Com nossos agricultores e povo das cidades, queremos refletir sobre as agressões que são infligidas ao meio ambiente; aprofundar as causas desse modo de se relacionar com a terra e os irmãos e irmãs; incentivar a agricultura familiar como caminho para uma vida saudável; cultivar uma espiritualidade ecológica baseada na simplicidade de vida; educar-se para um estilo de vida menos consumista e mais feliz”.
Vem aí, como veremos nas próximas semanas, a Campanha da Fraternidade que nos ajudará a pensar a vida como dom e compromisso, educando-nos para o cuidado que devemos ter com ela sob todas as óticas. Entremos no espírito do ‘Bem Viver’!
Para refletir:
– Consigo perceber quanto é bonito e importante entrar na lógica do “Bem Viver”? Estou disposto e quero assumir esse espírito e estilo de vida? O que tenho que superar para tanto? Tem algum habito que preciso mudar? Qual? Quando começo?
Textos bíblicos: Gn 2,7-9. 3,1-7; Mt 4,1-11; Jo 4, 1-26; Sl 50(51).
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório