Desde 2006, a Polícia Civil gaúcha conta com uma delegacia especializada no atendimento a crimes de furto/roubo a banco e instituições financeiras similares e a veículos de empresa de transporte de valores, além de crimes de extorsão mediante sequestro: A 1ª Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos (DR) faz parte do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e possui atribuição estadual. Criada em 26/05/2006 através do decreto 44.453, a delegacia foi instalada oficialmente em 24/11/2006, através da portaria 273/06/GAB/CH/PC. A delegacia atende estes tipos de crimes em todo o Estado do Rio Grande do Sul e está localizada na sede do Deic, na Av. Cristiano Fischer, 1440, bairro Jardim do Salso, em Porto Alegre.
O Diretor do Deic, delegado Rodrigo Bozzetto, explica que a DR é uma das 10 delegacias especializadas do Departamento, que compõem a Divisão de Investigação Criminal (DINC), cujo diretor é o delegado Sander Ribas Cajal.
Conforme dados estatísticos divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado, houve um decréscimo em ocorrências bancárias de 2017 a 2018. Ano passado, de janeiro a abril, foram 50 furtos e 27 roubos, sendo que este ano, no mesmo período, os números caíram para 29 furtos e 18 roubos. Este dado contabiliza um decréscimo de 42% em relação aos furtos e 33,33% em relação aos roubos.
O delegado João Paulo de Abreu, titular da 1ª DR, informa que os crimes contra instituições financeiras, com autoria desconhecida e repercussão no meio social, praticados em vários municípios ou relacionados com outros Estados, são investigados pela 1ª DR. “Os casos de roubo a banco no Estado são investigados pela Polícia Civil. A exceção é a Caixa Econômica Federal, que é atribuição da Polícia Federal, por tratar-se de empresa pública e o crime atingir bens exclusivos da União. Convém esclarecer, no entanto, que o Banco do Brasil também é competência da 1ªDR, embora muitos acreditem ser da Polícia Federal”.
De acordo com o delegado, também vale destacar que existe decreto estadual que dá atribuição às Delegacias Especializadas em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) para a investigação dos crimes de roubo, extorsão, extorsão mediante sequestro, roubo a banco e instituições financeiras similares e a veículo de empresa de transporte de valores. Estas Defrecs encontram-se no interior do Estado e na Região Metropolitana. Ou seja, estes crimes não são exclusivos da 1ªDR.
Questionado sobre quando ocorre um roubo a banco no interior do Estado o delegado Abreu explica que a Polícia Civil é uma só, ainda que dividida entre vários órgãos. “Seja onde for que o fato aconteceu, o atendimento inicial é da Delegacia de Polícia do local, da Defrec ou da delegacia mais próxima. Isto que é o mais importante. O atendimento tem que ser rápido, tem que ser imediato. Não adianta ocorrer um roubo a banco em Uruguaiana e esperar que a 1ªDR, que tem sede em Porto Alegre vá atender este local de imediato. Depois, se for o caso de organização criminosa relacionada a outros eventos semelhantes o caso será transferido para a especializada, que vai prosseguir com as investigações. Agora se é um fato relacionado a criminosos do local, se é um fato isolado e se a Defrec, a Delegacia de Polícia local ou a Regional tem condições de desenvolver esta investigação, este fato vai tramitar por lá. Mas, de qualquer maneira a 1ª Delegacia de Repressão a Roubos centraliza no que tange até o conhecimento sobre estes fatos, a ocorrência deles, quem são os autores ou os potenciais autores”.
Em relação aos crimes de extorsão mediante sequestro, eram eles muito comuns, tanto no Rio Grande do Sul, como em outros Estados. A repressão a esses crimes foram contundentes nos anos de 2015 em diante, repercutindo na diminuição dos números aqui no Estado. O ano passado nós tivemos cerca de 18 casos e, graças ao trabalho feito por toda a Polícia Civil, especialmente pelos agentes da 1ª Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos, chegamos a zero caso até o presente momento – relata o delegado. “Temos mantido constante vigilância em relação a criminosos que atuam nessa modalidade de crime, bem como em sua área de influência, também com a finalidade de evitar novos casos”.
O Diretor Rodrigo Bozzetto ressalta a dedicação e profissionalismo dos policiais lotados na DR, que laboram diuturnamente no combate aos delitos de sua atribuição, demonstrando singular desprendimento e comprometimento para o êxito do trabalho, qual seja, desmantelamento de organizações criminosas responsáveis pelos ataques aos estabelecimentos bancários, prisão dos seus responsáveis e asfixia financeira desses grupos. Esse trabalho árduo e técnico vêm mostrando resultados positivos, quando constatamos a redução dos índices de criminalidade de forma progressiva nos últimos anos.
Os profissionais da 1ª DR
Segundo o delegado João Paulo de Abreu, a 1ª DR é uma delegacia que ao longo de sua existência já desenvolveu diversas investigações criminais sobre fatos notórios e as organizações criminosas responsáveis, implicando por vezes em confrontos entre policiais e criminosos. Isso, portanto, demanda do lado da Polícia Civil uma melhor e constante preparação dos profissionais que ali trabalham, quer nos aspectos operacionais, quer nos aspectos de técnicas e tecnologias de investigação.
Os policiais da 1ª DR buscam, por vezes, a participação em cursos de capacitação de tiro, técnicas investigativas, entre outros. “Fizemos ano passado aqui um seminário de prevenção, investigação e ações operacionais sobre crimes de roubo a banco, extorsão mediante sequestro, trazendo profissionais de outros Estados, especialmente de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro, para compartilhar a expertise deles. Esse intercâmbio já rendeu frutos nas investigações por nós desenvolvidas.” – relata o delegado.
O policial que trabalha nesta delegacia precisa ter competências diversas. Deve ter necessariamente experiência em ações operacionais, táticas especiais, no manuseio de armas de fogo, especialmente longas, tipo fuzil, carabinas, identificação de material explosivo, etc. Mas também é necessário que o policial tenha competência de investigação. “Ele tem que saber muito bem trabalhar com medidas cautelares sigilosas, analisar todos estes dados que vem sendo disponibilizados pelas operadoras de telefonia. Temos trabalhado muito hoje com informações oriundas de mídias sociais, enfim, decorrentes destas quebras de sigilos telemáticos e informáticos. Além disso, deve ser um policial capaz de desenvolver as técnicas tradicionais de investigação, desde o atendimento do local de crime até o cumprimento de medidas cautelares decorrentes da investigação de seguimento desenvolvida. Na prática, é o policial da 1ª DR que dará atendimento a um local de roubo com emprego de explosivos, por exemplo, e terá ali que buscar vestígios e informações que favoreçam a investigação, entrevistará testemunhas, mas também terá que identificar eventuais materiais explosivos abandonados no local, pois possivelmente será um meio de investigação. É esse mesmo policial quem acompanhará as escutas telefônicas, analisará relatórios de ligações e produzirá relatórios de investigação. É o mesmo policial que atenderá, por exemplo, a um caso de extorsão mediante sequestro, tendo que orientar a família a como proceder nesses casos, sendo por vezes, “mais conselheiro, mais psicólogo”, do que policial. Mas é ele também que, localizado o cativeiro, terá que, por intermédio das melhores técnicas e táticas, resgatar aquela vítima de seu cárcere – explica Abreu.
Operações
A 1ª DR, como todas as delegacias especializadas do Deic, atua pontualmente na resolução de roubos e crimes relacionados, mas também realiza operações de combate a estes crimes. Várias operações foram desencadeadas com este intuito.
Em uma delas, em investigações desencadeadas em Força-Tarefa para a prisão de um conhecido líder de organização criminosa de assalto a banco, houve confronto entre os policiais e o grupo criminoso, no município de Mormaço. Na ação, ocorrida em fevereiro de 2016, nove pessoas foram presas, um integrante ficou ferido e o líder do grupo foi morto no local. Os suspeitos eram da Região Metropolitana de Porto Alegre, estavam sendo monitorados pela Polícia Civil e se preparavam para um novo ataque na região de Soledade. Esta era apontada como uma das principais organizações criminosas atuantes no roubo a bancos do Estado.
Em maio de 2017, durante a Operação Triade em diversas regiões do Estado, foram cumpridas mais de 100 ordens judiciais, sendo que 34 pessoas foram presas, drogas, armas e um veículo que era objeto de busca e apreensão foram apreendidos. A ação teve por objetivo desarticular três grandes núcleos criminosos especializados em furtos e roubos a instituições bancárias, os quais atuavam principalmente na região da serra gaúcha, nos anos de 2016 e 2017. Os grupos criminosos realizaram ataques em bancos de Muitos Capões e Planalto, em 2016, fazendo o uso de armas de fogo, machado e utilizando reféns para obter êxito na ação. Também agiram em Monte Belo do Sul e Tupanci do Sul, em 2016, sendo todos os ataques de forma violenta, com emprego de armas e fazendo o uso de reféns. Em 2017 várias roubos foram realizados praticados pelos mesmos indivíduos, mesmo modus operandi, em diferentes cidades como Putinga, Maximiliano de Almeida e Fontoura Xavier.
Outra ação de relevância que cabe destacar é a Operação Cotton, deflagrada em julho de 2017, que desarticulou uma organização criminosa responsável por inúmeras ocorrências de extorsão mediante sequestro e cárcere privado, tendo como vítimas pessoas de diversos Estados do Brasil. Treze pessoas foram presas durante a investigação, que iniciou em março de 2016. O grupo praticava os crimes atraindo as vítimas através da internet, mediante falsos anúncios de produtos com preços incompatíveis com o do mercado. Os produtos eram sempre de alto valor, visando atrair vítimas de alto poder aquisitivo. Em seguida, a negociação previa a vinda do comprador dos produtos até o Rio Grande do Sul, onde, ao ser recepcionado pelo representante da venda, durante o trajeto, tinha sua liberdade restringida mediante ameaças com arma de fogo.
Bozzetto explica que a especializada trabalha de forma a desenvolver grandes e complexas investigações, concomitantemente com ações pontuais e “cirúrgicas” relativamente a alvos qualificados, possuindo assim, acompanhamento permanente de indivíduos de alta periculosidade. Para isso, conta com um setor interno de análise criminal e de ferramentas modernas de investigação, bem como com o apoio fundamental da Divisão de Inteligência do próprio Departamento – a Dipac/Deic, que a municia com informações importantes para uma maior eficácia dos trabalhos.
Palavras do Chefe de Polícia, Delegado Emerson Wendt
“É muito importante a Polícia Civil gaúcha manter uma investigação qualificada em crimes de roubo, extorsão, extorsão mediante sequestro, roubo a banco e a veículo de empresa de transporte de valores. Isso se deve ao constante aprimoramento dos nossos policiais civis, sobretudo dos profissionais lotados na 1ªDR, que se aperfeiçoam através de treinamentos, cursos, seminários, inclusive com intercâmbio e troca de informações com Polícias Civis de outros estados. Esta preparação reflete diretamente no decréscimo bastante significativo no número de casos de furto e roubo a instituições bancárias de 2017 a 2018 e na ausência de crimes de extorsão mediante sequestro neste ano”, esclareceu Wendt.
Dicas de prevenção
Para a prevenção de roubos, especialmente em estabelecimentos bancários ou comerciais, é importante o uso de tecnologias de segurança por parte da possível vítima. Sistemas de segurança, com câmeras de qualidade, favorecem a investigação, explica Abreu. O indivíduo que pratica o crime se aproveita da ausência de uma vigilância, para praticar o crime. O delegado salienta que toda e qualquer suspeita envolvendo um potencial comprador de uma mercadoria, um cliente, que tenha chamado a atenção dos funcionários deve ser comunicado a Polícia Civil, ou a própria Brigada Militar, o quanto antes.
Para evitar este tipo de crime é importante que as pessoas tenham alguns cuidados. Normalmente a ação dos criminosos não é aleatória, muitas vezes as informações são passadas pela própria vítima através das redes sociais. Então é necessário cuidar o que é postado, não é aconselhável fazer check-in ou postagens indicando a sua localização. “Muitas pessoas têm por hábito divulgar toda sua vida nas redes sociais e estas informações acabam chegando até os criminosos. Infelizmente as pessoas caem na rotina e não se dão conta de mudar o trajeto, o horário de chegar em casa e os lugares que frequentam, por exemplo. E os grupos criminosos observam a rotina da vítima antes de agir. Quanto mais mudar essas rotinas, mais dificultada será a ação destes indivíduos”.
O delegado destaca ainda que em casos de extorsão mediante sequestro a vítima deve procurar a polícia o quanto antes, assim que identificar que se trata realmente de um caso de extorsão mediante sequestro. “A pessoa desapareceu, ligaram, exigiram valor de resgate, realmente estão na posse da vítima, então se deve procurar o quanto antes a Polícia Civil local que vai encaminhar a nós a ocorrência” – salienta Abreu.
Também é importante alertar para prática de trotes coordenados por presidiários que ligam para as pessoas fazendo a simulação de um sequestro, informando que estão com algum parente próximo da vítima. O chamado falso sequestro exige que, em um momento de tensão, a pessoa tenha a tranquilidade de avaliar corretamente os fatos. “O crime já conta com incidência menos recorrente, graças ao conhecimento da população desse tipo de golpe ”– finaliza João Paulo de Abreu.
Cecy Quadros Raicik – Reg. Prof. 6211 – Jornalista