O fim da dúvida e da angústia. Este é o principal saldo do mutirão de coleta de material genético de familiares de pessoas desaparecidas, realizado pelo IGP em parceria com a Polícia Civil e o Ministério da Justiça em junho deste ano. Para oito famílias, as perguntas sobre o paradeiro dos familiares finalmente encontraram as respostas: os corpos foram identificados e poderão ser entregues às famílias.
Graças ao trabalho do mutirão, o aposentado João Marcos de Souza pode repousar os restos mortais do pai no mesmo local onde a mãe está enterrada. Foram 12 anos à procura do genitor, que sofria de Mal de Alzheimer e desapareceu em 2009. O corpo foi encontrado em 2014, mas não havia condições técnicas para a identificação pela papiloscopia, nem materiais odontológicos disponíveis para identificação pela arcada dentária (conheça mais sobre esses processos clicando aqui). A única forma de identificação disponível, então, seria a comparação com o material genético de um familiar. A solução começou a ser desenhada em junho, durante o mutirão na Praça do Avião, em Canoas. João Marcos cedeu o material, que foi processado no Laboratório de Genética Forense e incluído no Banco de Perfis Genéticos do IGP – onde já estava armazenada a amostra genética coletada desde que o corpo foi encontrado. O match – ou seja, a confirmação de que as duas amostras tinham perfil genético compatível entre pai e filho – aconteceu um mês depois. “Fiquei impressionado com a qualidade do trabalho e a rapidez com que as informações chegaram. Fomos avisados pela Delegacia e pude retirar o corpo do meu pai, que estava no Departamento Médico-Legal”, afirma João Marcos.
Durante a semana de 14 a 18 de junho, as equipes dos Departamentos de Perícias Laboratoriais, Médico-legal e de Identificação do IGP se instalaram em onze locais da capital, região metropolitana e do interior do Estado, para coletar o material genético dos parentes de pessoas desaparecidas. Ao todo, foram realizadas 189 coletas, mais de três vezes o número de amostras cedidas por familiares em 2020, quando 59 familiares procuraram o IGP. Foi preciso deslocar uma equipe apenas para processar as amostras que foram coletadas em todo o estado durante o mutirão. Os oito matches obtidos representam 18% de todos os casos revelados pelo IGP desde o início do trabalho do Banco de Perfis Genéticos. “É bom ver que a nossa ação trouxe resultado, por mais que ele leve a uma situação triste. É importante dar essa resposta para as famílias, para que elas possam viver o luto”, avalia a perita criminal da Divisão de Genética Forense do IGP, Polyana Maier.
A quantidade de familiares e de matches obtidos ultrapassou as expectativas do Laboratório, mas é resultado de muito trabalho e planejamento. O mutirão foi realizado nos locais que concentram a maior quantidade de desaparecidos – a experiência ensina que os corpos normalmente são encontrados próximos ao local do sumiço. Alem disso, desde 2014 todos os corpos sem identificação que passam pelo IGP/RS tem material genético coletado, o que possibilitou a formação de um banco de perfis genéticos que conta hoje com mais de quinhentas amostras. “Já tínhamos uma quantidade significativa de amostras de cadáveres, mas faltava ampliar a quantidade de amostras dos familiares, o que foi possível através do mutirão” explica Polyana.
Como funciona a coleta – o mutirão acabou, mas a coleta de material genético para pessoas que tem familiares desaparecidos é um serviço permanente, e pode ser feita em todos os Postos Médico-Legais do IGP no Estado e no Laboratório da Divisão de Genética Forense do IGP (Avenida Azenha 255, em Porto Alegre). A coleta é feita por suabe oral e/ou amostras de sangue, e são utilizadas apenas com a finalidade de encontrar pessoas desaparecidas. O material é processado e inserido no Banco de Perfis Genéticos do IGP (BPG/RS), que armazena o material genético de todos os cadáveres sem identificação do Estado. Se a identificação for positiva, a Polícia Civil comunica a família, que pode retirar o corpo (se a morte ocorreu após mais de 30 dias, os restos mortais são enterrados, em gavetas individuais, no cemitério do município onde se deu a localização). Se a identificação não acontecer, o material permanece no BPG. Semanalmente são feitos cruzamentos para tentar a identificação.