Nesse tempo pascal, a Palavra continua a nos surpreender com manifestações particulares do Ressuscitado que nos convidam a deixar-nos envolver pela sua presença viva entre nós. Em tempo de corona vírus nos sentimos um tanto mortificados porque para nós católicos a celebração da Eucaristia é lugar privilegiado de encontro com o Ressuscitado.
Os discípulos de Emaús: “Contaram aos colegas o que lhes havia acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão” (Lc 24, 35).
Dois dos discípulos de Jesus que tinham deixado tudo para andar com ele, naturais do povoado de Emaus, próximo de Jerusalém, decepcionados com a morte do Mestre, decidiram voltar para casa, pois para eles tudo parecia terminado:
“Esperávamos que ia restaurar Israel, mas já é o terceiro dia e nada aconteceu, só umas mulheres dizem ter tido uma visão de anjos…”. Esse foi o comentário feito ao forasteiro que se juntou a eles enquanto caminhavam frustrados.
Jesus foi falando e mostrando como os fatos acontecidos tinham uma relação clara com o que estava anunciado nas Escrituras. Eles continuaram ouvindo com interesse e a esperança vai voltando e inundando seus corações.
A escuta da Palavra já é encontro com Jesus e o momento do partir o pão é ocasião privilegiada para uma experiência mais intensa da presença do Ressuscitado.
O contexto de Lc 24 é claramente litúrgico: a escuta da Palavra que progressivamente leva para a Eucaristia, vida partilhada de Jesus: “corpo doado e sangue derramado para a nossa salvação”.
Nós também deveríamos sair das nossas celebrações eucarísticas exultando de alegria pelo encontro com o Senhor Jesus e sairmos com pressa para comunicar a todos a nossa alegria. Se saímos delas com a mesma frieza com que entramos é porque nossa fé no ressuscitado está ainda frágil.
Precisamos deixar que a Palavra de Deus faça conosco o que fez com os discípulos de Emaús: nos projete para a missão, nos faça Igreja em saída. Não pensemos que para os discípulos tenha sido tudo fácil. Precisou que Jesus
lhe abrisse a inteligência para entenderem as Escrituras e que o Cristo sofreria e ressuscitaria dos mortos ao terceiro dia, que no seu nome seriam anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.
Dar testemunho da ressurreição de Jesus e levar essa Boa Notícia até os confins do mundo é missão de todo discípulo de Jesus, portanto de todos nós.
Para refletir:
Como é minha participação nas celebrações litúrgicas, especialmente a Santa Missa?
Participo assiduamente? Como me sinto? Como saio destas celebrações? São
momentos de encontro com o Ressuscitado? Se não participo, por que isso acontece?
Será mesmo que não preciso? Ou tenho vergonha de manifestar minha fé perante os amigos? É isso liberdade ou escravidão?
Textos bíblicos: At 2,14.22-33; Lc 24, 13-31; Sl 15(16).
Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório